O Misto em Boa Saúde
A partir da década de 1940 o transporte rodoviário começou a se desenvolver no país. Antes, o meio de transporte utilizado para percorrer as grandes distâncias era o trem. A principal ferrovia do Rio Grande do Norte, que ligava Natal ao Recife, passava na sede do Município de São José de Mipibu, distante 60 quilômetros do Distrito de Boa Saúde.
Misto de Luiz Francisco em Córrego de São Mateus |
O transporte rodoviário passou a ser mais usado no Estado, a partir da Segunda Guerra Mundial. Os primeiros transportes coletivos colocados em circulação, entre a capital e os povoados e cidades do interior, foram as “sopas”, uma espécie de ônibus aberto nas laterais, e os “mistos”, cujo espaço era dividido: bancos (boléia) para passageiros e carroceria para carga.
O primeiro “misto” que viajava de Boa Saúde para Natal, na década de 1950, pertenceu ao Senhor Manoel Costa, residente em Natal, sendo dirigido por ele mesmo. O percurso era vencido em quatro, cinco horas, em estrada de barro, cujo trecho pavimentado a paralelepípedo, era de Macaíba a Natal. Existia asfalto entre Parnamirim e Natal, mas o “misto” fazia a “linha” por Macaíba. Durante a viagem, dependendo do surgimento de passageiros e de cargas, faziam-se quantas paradas fossem necessárias, sendo que as principais eram: Lagoa do Murici, Córrego de São Mateus, Pitombeira, Vera Cruz, com tempo para café ou lanche, dependendo da hora e, ainda, Cana Brava e Macaíba. O ponto final, em Natal, era na Avenida Um (atual Presidente Quaresma).
Toyota de Robério Xavier |
Eram realizadas três viagens por semana, sendo que o maior número de passageiros e a maior quantidade de carga era às sextas-feiras, por conta da feira do Alecrim, para onde os produtores ou atravessadores levavam cereais, goma e farinha de mandioca e animais do tipo: carneiro, porco, peru, galinha, guiné, além de outras mercadorias. Por outro lado, naquela época, o comércio local se abastecia de produtos industrializados adquiridos em Natal.
Houve um período, em que Boa Saúde contou com três “mistos” viajando para Natal, para poder atender ao movimento de passageiros e ao aumento da produção rural que era comercializada em Natal. Um pertencente ao Senhor Luiz Francisco de Oliveira, que residia no Córrego de São Mateus, e outro pertencente ao Senhor Lídio José da Costa, que residia em Boa Saúde.
O desaparecimento do “misto” se deve ao uso do jeep pelos comerciantes, que além de mercadorias transportavam, também, passageiros com maior frequência e maior rapidez e ao aparecimento de caminhões que passaram a transportar mercadorias, inclusive para outros destinos, como: Nova Cruz, Santo Antônio, nos dias de feira. Outro fator foi a redução de certos produtos de origem agrícola e pastoril no município. Por outro lado, o comércio local passou a se abastecer diretamente através de atacadistas que fazem a entrega da mercadoria no próprio estabelecimento.
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O texto foi extraído do livro Boa Saúde: Origem e história escrito por José Alai e Maria de Deus. Algumas imagens são dos blogs que José Alai mantinha. O objetivo dessa postagem é tão somente conservar nossa história.