NOSSA HISTÓRIA - O Rio Trairi

O Rio Trairi

O Município e a cidade de Boa Saúde são banhados pelo Rio Trairi, que nasce na Serra do Doutor, nos municípios de Campo Redondo e Coronel Ezequiel, e deságua no Oceano Atlântico, através da Lagoa Guaraíra, no município de Nísia Floresta.

Poço da Pedra Grande no Rio Trairi
Os primeiros habitantes do povoado construíram suas casas nas proximidades do rio, se estabelecendo ali por causa dele e iniciando uma relação de convivência e de dependência.
Poço da Pedra Grande no Rio Trairí. Como todo rio periódico, o Trairi, nos anos bons de inverno, torna-se perene com as grandes enchentes. Passado o período das chuvas, o seu leito seca, ficando alguns poços, em determinados lugares, servindo para as pessoas tomarem banho e os animais beberem água. Em Boa Saúde, desde tempos remotos, existe o poço da pedra grande, onde as pessoas se banhavam diariamente, em horários destinados aos homens e às mulheres. Atualmente, o banho de rio se constitui um lazer, enquanto que no passado fazia parte da higiene , uma vez que não existia água encanada. Desde o passado, e ainda hoje, conta-se que existe uma gruta, de grandes dimensões, debaixo da pedra grande.

No período do inverno, o abastecimento das residências era feito com água de chuva “aparada” diretamente na “biqueira” ou armazenada em cisternas. O responsável pela introdução do uso da cisterna em Boa Saúde foi o Senhor Sebastião Cleodon de Medeiros, que construiu a primeira da localidade, em sua residência, servindo de exemplo para outras pessoas, que passaram a construir, também, para poder continuar bebendo água doce depois do inverno. Devido os custos de construção, poucas pessoas possuíam cisternas, e, desse modo, a maioria atendia a todas as necessidades de consumo com água salobra, retirada de cacimbas cavadas no leito do rio, carregada em barris conduzidos por jumento (foto abaixo), em “galões”, ou, ainda, em potes, cabaços e latas na cabeça. Somente depois foi que surgiram os carros pipas trazendo água doce.

As enchentes do rio eram um “acontecimento”. Movimentavam as pessoas a partir do momento em que corria a notícia: “o rio vem com água!”. Quem tinha cerca no leito do rio, ou nas suas margens, cuidava logo de desmanchar. Outra providência urgente era a retirada dos animais que estivessem pastando no leito e nas margens do rio. As pessoas cujas residências ficavam do outro lado do rio tinham que, às pressas, atravessarem em direção às suas casas.

Quando o rio começava a encher, as pessoas desciam rua abaixo, parecendo uma procissão, para ver a “cheia”, não importando a hora do dia ou da noite. Rio cheio, “de barreira a barreira”, enquanto a água não baixasse, atravessar somente a nado. Precisava ser bom nadador, como os irmãos Joaquim, Manoel e Nelson Flor, residentes em Boa Saúde e que faziam a travessia de pessoas, mercadorias e, até, defuntos.

Dependia, também, do rio a lavagem de roupa. No verão, com água salobra das cacimbas, e no inverno, com água de chuva dos tanques da pedra grande e dos lajedos do outro lado do rio. Existia uma verdadeira disputa pela água dos tanques. Quem chegava primeiro, levava vantagem, ficando com a maior quantidade de água. A roupa era lavada nos lajedos que serviam, também, para “quarar”. Depois, era secada ao sol estendida nas cercas de arame.

Outros aspectos importantes da vida da população relacionados com o rio eram a pesca e a cultura de vazante. A pesca era praticada com frequência, contribuindo para o sustento das famílias. Os principais peixes encontrados, principalmente nos poços, eram: a traíra, a curimatã, o cará, o jundiá e a piaba, pescados com tarrafa, anzol e landuá. A pesca da piaba era feita com o auxílio de uma garrafa, tendo como isca farinha de mandioca.

A cultura de vazante era realizada no leito do rio, nos períodos de estiagem. Plantava-se batata doce para o consumo das pessoas e capim para ração dos animais.

Nos dias atuais, a relação da população com o rio não é mais a mesma. Com a construção da ponte, as pessoas atravessam desapercebidas, de um lado para outro, a qualquer hora do dia ou da noite, independente do rio estar cheio ou seco. Com a chegada da água encanada as pessoas não dependem mais do rio para tomar o seu banho diário, como não dependem, também, da água salobra das cacimbas para atender a outras necessidades de consumo. A lavagem de roupa com água dos tanques é coisa do passado. A pesca e a cultura de vazante quase não existem mais. As enchentes já não chamam tanto a atenção como antigamente. Só o rio é o mesmo, com todo o seu potencial, que precisa ser preservado e explorado racionalmente.

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O texto foi extraído do livro Boa Saúde: Origem e história escrito por José Alai e Maria de Deus. Algumas imagens são dos blogs que José Alai mantinha. O objetivo dessa postagem é tão somente conservar nossa história.

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