O Rio Trairi
O Município e a cidade de Boa Saúde são banhados pelo Rio Trairi, que nasce na Serra do Doutor, nos municípios de Campo Redondo e Coronel Ezequiel, e deságua no Oceano Atlântico, através da Lagoa Guaraíra, no município de Nísia Floresta.
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Poço da Pedra Grande no Rio Trairi |
Os primeiros habitantes do povoado construíram suas casas nas proximidades do rio, se estabelecendo ali por causa dele e iniciando uma relação de convivência e de dependência.
Poço da Pedra Grande no Rio Trairí. Como todo rio periódico, o Trairi, nos anos bons de inverno, torna-se perene com as grandes enchentes. Passado o período das chuvas, o seu leito seca, ficando alguns poços, em determinados lugares, servindo para as pessoas tomarem banho e os animais beberem água. Em Boa Saúde, desde tempos remotos, existe o poço da pedra grande, onde as pessoas se banhavam diariamente, em horários destinados aos homens e às mulheres. Atualmente, o banho de rio se constitui um lazer, enquanto que no passado fazia parte da higiene , uma vez que não existia água encanada. Desde o passado, e ainda hoje, conta-se que existe uma gruta, de grandes dimensões, debaixo da pedra grande.

As enchentes do rio eram um “acontecimento”. Movimentavam as pessoas a partir do momento em que corria a notícia: “o rio vem com água!”. Quem tinha cerca no leito do rio, ou nas suas margens, cuidava logo de desmanchar. Outra providência urgente era a retirada dos animais que estivessem pastando no leito e nas margens do rio. As pessoas cujas residências ficavam do outro lado do rio tinham que, às pressas, atravessarem em direção às suas casas.
Quando o rio começava a encher, as pessoas desciam rua abaixo, parecendo uma procissão, para ver a “cheia”, não importando a hora do dia ou da noite. Rio cheio, “de barreira a barreira”, enquanto a água não baixasse, atravessar somente a nado. Precisava ser bom nadador, como os irmãos Joaquim, Manoel e Nelson Flor, residentes em Boa Saúde e que faziam a travessia de pessoas, mercadorias e, até, defuntos.
Dependia, também, do rio a lavagem de roupa. No verão, com água salobra das cacimbas, e no inverno, com água de chuva dos tanques da pedra grande e dos lajedos do outro lado do rio. Existia uma verdadeira disputa pela água dos tanques. Quem chegava primeiro, levava vantagem, ficando com a maior quantidade de água. A roupa era lavada nos lajedos que serviam, também, para “quarar”. Depois, era secada ao sol estendida nas cercas de arame.
Outros aspectos importantes da vida da população relacionados com o rio eram a pesca e a cultura de vazante. A pesca era praticada com frequência, contribuindo para o sustento das famílias. Os principais peixes encontrados, principalmente nos poços, eram: a traíra, a curimatã, o cará, o jundiá e a piaba, pescados com tarrafa, anzol e landuá. A pesca da piaba era feita com o auxílio de uma garrafa, tendo como isca farinha de mandioca.
A cultura de vazante era realizada no leito do rio, nos períodos de estiagem. Plantava-se batata doce para o consumo das pessoas e capim para ração dos animais.
Nos dias atuais, a relação da população com o rio não é mais a mesma. Com a construção da ponte, as pessoas atravessam desapercebidas, de um lado para outro, a qualquer hora do dia ou da noite, independente do rio estar cheio ou seco. Com a chegada da água encanada as pessoas não dependem mais do rio para tomar o seu banho diário, como não dependem, também, da água salobra das cacimbas para atender a outras necessidades de consumo. A lavagem de roupa com água dos tanques é coisa do passado. A pesca e a cultura de vazante quase não existem mais. As enchentes já não chamam tanto a atenção como antigamente. Só o rio é o mesmo, com todo o seu potencial, que precisa ser preservado e explorado racionalmente.
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O texto foi extraído do livro Boa Saúde: Origem e história escrito por José Alai e Maria de Deus. Algumas imagens são dos blogs que José Alai mantinha. O objetivo dessa postagem é tão somente conservar nossa história.